Por Rosa Saraiva | Ter, 2018-11-20 09:46

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Entristecem, isolam-se e não sabem pedir ajuda. Os sinais depressivos estão lá, é preciso decifrá-los. Mas não é apenas o que se passa no íntimo dos adolescentes que os pode levar a atos desesperados. Crianças e jovens também sofrem com as dificuldades das famílias. Nos anos de crise, as consultas de pedosiquiatria nos hospitais do SNS aumentaram. Porque esta dor profunda resolve-se com acompanhamento especializado e não apenas com ansiolíticos, antidepressivos ou comprimidos para dormir.

De um dia para o outro, a crise económica começou a bater à porta das famílias portuguesas. Desemprego, insegurança no trabalho, cortes nos vencimentos e, no limite, emigração. Juntaram-se os medos a ensombrar presente e futuro, com pais angustiados, apreensivos, desorientados, menos disponíveis para os filhos. Todo este ambiente familiar foi absorvido pelos mais novos, o peso das dificuldades também caiu sobre eles e traduziu-se em sofrimento psicológico.

Ao esforço dos pais, sentiram-se eles obrigados a responder com boas notas, a serem alunos exemplares. Muitos não aguentaram a pressão e tiveram de recorrer a ajuda especializada. A atitude correta. Porque milhares de crianças e adolescentes não conseguem ultrapassar picos de ansiedade nos períodos de testes e exames, nem lidar com dificuldades, com o insucesso ou com a falta de auto-estima. Isolam-se, entristecem, não pedem ajuda, ficando mais perdidos num labirinto de dor. Tentativas de suicídio e auto-mutilação, muitas vezes sem intenção de morrer, chegam todas as semanas às urgências hospitalares.

O desafio da prevenção

O impacto da crise na saúde mental das crianças e dos jovens fez disparar as consultas de pedopsiquiatria nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Na região centro, o Hospital Pediátrico de Coimbra recebeu, entre 2011 e 2013, mais de 80% de pedidos de consulta. Os internamentos também aumentaram. No entanto, em 2014, só existiam 10 camas em Lisboa e 10 camas no Porto para internar jovens com problemas mentais.

A capacidade de resposta é escassa, a falta de recursos, a carência de médicos e enfermeiros especializados, são problemas recorrentes num quadro em que a procura destes serviços aumentou em todo o país, nos últimos anos. São razões económicas que impedem o investimento necessário, porém há toda a urgência em olhar para esta realidade sem preconceitos. Trata-se de salvar crianças e jovens de uma dor invisível que os consome.

Nesta reportagem de 2014, falam Conceição Almeida do Programa Nacional de Saúde Mental Infância e Adolescência; Helena Santos, Assistente Social do Centro Hospital e Universitário de Coimbra; Álvaro Carvalho, diretor do Programa Nacional de Saúde Mental DGS; José Garrido, diretor do Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital Psiquiátrico de Coimbra.

Em caso de necessidade contacte a Linha depressão do Ministério da Saúde (80899700)

Ficha Técnica

  • Título: Saúde Mental nos Jovens e nas Crianças
  • Tipo: Reportagem
  • Autoria: Carolina Ferreira
  • Produção: RTP
  • Ano: 2014