Estas produções escritas são um importante testemunho das crianças e dos jovens que viveram esta situação excecional de confinamento.
A vossa visão e opinião fica para a posteridade. Nós, como adultos, e vós, como futuro da humanidade, em conjunto, podemos mudar o mundo para melhor tomarmos consciência que temos uma grande responsabilidade para com o planeta e todos os seres vivos. Agradecemos os vossos testemunhos sinceros e a vossa sensibilidade, bela e lúcida, revelando grande compreensão do mundo real. Continuai pela vida fora a escrever com esse discernimento. A escrita abre portas da consciência humana e pode transformar o mundo.
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Página de Diário - A mudança
Meu querido diário, tenho tantas coisas para te contar. De um momento para o outro, passei a ter escola em casa. A escola fechou, deixei de poder ver os meus amigos por causa de um vírus. Na televisão, não se fala de outra coisa, as conversas de adultos são todas sobre ele. A esse vírus deu-se o nome de covid-19 ou de coronavírus.
O coronavírus apareceu na China, pode entrar para o nosso corpo através da boca, do nariz e dos olhos. Os sintomas que o covid-19 provoca são a tosse, a febre e principalmente problemas respiratórios. Para me proteger, devo lavar várias vezes as mãos durante vinte segundos ou então enquanto canto os parabéns, mas tenho de os cantar duas vezes. Devo evitar pôr as mãos na cara e não posso andar no meio de multidões. Para evitar riscos, devo ficar em casa.
Desde que apareceu o coronavírus, eu fui privada de muitas coisas. A minha vida deixou de ser como era antes. Já não tenho natação, teatro, catequese, agora estou sempre fechada em minha casa. Antes, eu não queria saber da escola, mas agora sinto imensa falta dela. Fazem-me tanta falta todos os meus amigos da escola. Sinto imensas saudades dos meus colegas de turma, dos meus professores e até das auxiliares...mesmo das pessoas que não gostava tanto, até dessas sinto falta. Agora passo os dias em casa, por um lado estou feliz porque passo mais tempo com os meus pais e a minha irmã, mas por outro estou triste, sinto falta das minhas rotinas habituais e das brincadeiras com os meus amigos.
Neste momento, devemos estar todos em isolamento social em nossas casas para nos protegermos e conseguirmos ultrapassar isto tudo. Diz-se que juntos conseguimos fazer tudo, mas desta vez vamos ter de o fazer separados, cada um em sua casa.
Agora que estamos todos em isolamento social, já não existe tanta poluição. O planeta Terra esta a ficar mais limpo, mais saudável. Está na hora de pensar se devemos mudar os nossos hábitos. Isto tudo é só o planeta a queixar-se para pararmos com a poluição. Se nós pararmos com a poluição, os rios irão ficar com uma cor mas limpa e cristalina, o céu ficará com uma cor mais azul, as águas com uma cor mais clara, as nossas praias serão mais bonitas de se observar e não haverá tantos animais em extinção.
Será que vamos conseguir ultrapassar isto ou será sempre tudo assim? Será que vamos ter de estar sempre fechados em casa? Vamos todos sobreviver?
Agora que algumas das pessoas que eu gosto não podem estar comigo, eu devo falar mais com elas, por exemplo, por chamada telefónica. Nesta altura, devo aproveitar ao máximo o tempo para falar com elas porque pode haver pessoas da minha família que não consigam ultrapassar isto. Mas se ultrapassarem é bem melhor. Também devo contar com a ajuda que os outros me dão. Devo também fazer mais exercício físico e fazer algumas atividades que gostaria de experimentar em casa. Também nunca devo perder a esperança e, se houver alguma coisa que me preocupe, devo partilhar isso com alguém com quem eu tenha muita confiança.
Eu penso que quando isto acabar será um pouco difícil adaptar-me a esta nova realidade, não sei se poderei fazer as coisas que fazia antes.
Meu querido diário, por hoje é tudo; como vês as notícias não são boas, mas tenho esperança que, da próxima vez, te possa escrever momentos mais felizes, porque acredito que tudo irá ficar bem.
Margarida Branco Bessada, nº13, 4ºano – V4C, Escola Básica José Pinheiro Gonçalves.
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Página de Diário
Sabes, querido diário, sempre gostei muito de dar e receber beijinhos e abracinhos e, de um momento para o outro, deixei de o fazer.
Lembro-me da Páscoa na casa dos meus avós, da cruz, do padre, de muitas pessoas juntas e muito felizes. Lembro-me de receber muitos ovinhos de chocolate, de passar esse dia a brincar com os meus primos. Este ano foi tudo muito diferente.
O ovo de chocolate veio ter a minha casa, mas não houve abracinhos nem beijinhos, não houve festa. Fiquei em casa com os meus pais e os meus irmãos.
Tudo isto porquê? Porque estamos todos tão afastados? Porque não posso voltar para a escola?
Os meus pais explicaram-me que tudo isto é por causa do Covi-19, que é um vírus que se transmite com muita facilidade e que pode estar em qualquer local. E, enquanto não for descoberta uma vacina, não estamos seguros. Por isso, temos de ficar em casa, para que ele não nos encontre. Este é o motivo pelo qual agora a escola é a partir de casa.
No início, foi estranho, confuso e até um bocado desorganizado. Detestei acordar e ir para a frente de uma televisão. Tive a ajuda dos meus pais e da minha professora e agora até já me habituei. Mas preferia voltar à escola, não gosto muito de ter aulas em casa. Acho que é a primeira vez que digo ou escrevo isto, mas a verdade é mesmo esta, não gosto de ter aulas em casa.
Quero muito que tudo volte a ficar bem, que alguém descubra uma vacina para que este pesadelo termine, para poder brincar nos parques, para poder abraçar e beijar as pessoas que gosto e para poder voltar a fazer tudo que gosto sem ter medo.
Como acredito que o bem triunfa sempre sobre o mal, eu acredito que em breve ficará tudo bem e que voltaremos a conquistar a nossa liberdade e a ser muito felizes.
Mariana Martins Gonçalves, nº 14, 4ºano – V4C, Escola Básica José Pinheiro Gonçalves.
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Monção, 30 de abril de 2020
Olá, amiga Lara!
Como estás?
Comigo está tudo bem e espero que contigo também.
Escrevo-te esta carta para saberes algo de mim, já que há muito tempo que não nos vemos.
Quando este confinamento passar, vou dar-te um abraço do tamanho do mundo. Por enquanto, temos de ficar em casa e, se todos cumprirem as regras da Direção Geral de Saúde, mais rápido nos vamos abraçar.
No verão, se esta pandemia já tiver passado, já poderemos estar juntas.
Este é um dos momentos mais difíceis na vida dos portugueses .
Eu, para não sentir tanto medo, até desligo a televisão, pois as notícias assustam-me muito.
Para não pensar demasiado nesta pandemia, eu costumo fazer algumas coisas: estudar, praticar exercício físico, reciclar, brincar com a minha irmã e ajudá-la nos trabalhos infantis da sua escola.
Sabes do que estou a gostar muito? É das aulas na televisão e no email, mas é claro que prefiro ter as aulas na escola.
Estou em pulgas para que isto passe, desejo muito que o mundo volte ao normal. Só me apetece chorar quando imagino as pessoas que vivem na rua, nos velhinhos dos lares, nos doentes contagiados e naqueles que não conseguem resistir à doença.
Mas há pessoas que não se importam com nada! Viste aquelas pessoas em Vila do Conde a andar na rua, à beira do mar como se nada fosse? São pessoas ignorantes, não achas?
Eu e a minha família também estamos fartas de estar em casa, mas temos de cumprir as regras, pois se não cumprirmos isto não passa.
Temos de agradecer aos profissionais de saúde, eles sim são uns heróis! Trabalham 24 horas por dia para salvar as nossas vidas.
Na minha freguesia, não desinfetam as ruas, nem distribuem kits de proteção . O meu pai, no outro dia, é que esteve a desinfetar a rua em frente da minha casa. A Junta de freguesia não quer saber e as pessoas andam muito assustadas.
Eu tenho muita, mas mesmo muita pena das famílias carenciadas, muitas ficaram sem emprego e podem não ter dinheiro para comer e viver. Às vezes, nem durmo só de pensar como isto vai ficar.
As agências funerárias é que estão a ganhar dinheiro, neste momento, infelizmente. A China também, vendendo máscaras e ventiladores para todo o Mundo.
Eu só de pensar o que me pode acontecer a mim e à minha família, fico com muito medo; quase que não tenho medo de nada, mas isto está a marcar-me para a toda a vida.
Tanto Portugal, como todo o mundo não estavam preparados para isto!
Em minha opinião, se tivessem fechado as fronteiras logo no início, evitaria a vinda de emigrantes contagiados, mas infelizmente isso não aconteceu.
Mas há uma pessoa que me consegue fazer um pouco feliz. Sabes quem é? É a minha ídolo Sofia Ribeiro.
Não te esqueças destes conselhos:
Quanto menos sairmos de casa mais rápido nos vamos abraçar.
Fica em casa que eu também fico.
Todo o cuidado é precioso.
Cuida-te.
Recebe um grande abraço cheio de saudades da tua amiga,
Íris Mendes Esteves nº 6, 5º B, Escola Básica Deu-la-deu Martins
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Página de Diário
Dia quarenta do meu isolamento:
Após um mês e uma semana de isolamento, devido à pandemia Covid-19, ainda me encontro confinado sem poder ir a locais comerciais, à escola, à catequese, ao futebol...
Isto é uma grande reviravolta no quotidiano das pessoas. De todo o Mundo, todos os dias ouvimos, através da comunicação social, notícias de "arrepiar ", os nossos lideres do governo adaptam leis devido a esta pandemia e o nosso País está meio paralisado.
Tivemos que interiorizar medidas de prevenção tais como: a lavagem frequente das mãos, o uso de máscara e a utilização de gel desinfetante.
Com o decorrer dos dias que passam, tive que adaptar o meu quotidiano. As novas rotinas demonstram uma quebra em comparação com o que estávamos habituados a fazer. Acordo às 8:20 e tomo o meu pequeno-almoço logo de seguida e, às 9:00, começo a assistir às aulas por videoconferência, uma vez que não podemos ir à escola. Temos que respeitar o isolamento social. Outra novidade é que também assisto às aulas, pela telescola, na televisão. É como se tivessemos voltado atrás, quarenta anos no tempo. Ouvia o meu tio a falar da telescola e, pensava eu, que era uma coisa muito esquisita, muito antiquada... Nunca pensei que também eu viveria essa experiência. Hoje em dia, há tanta tecnologia e, afinal, a solucão é a mesma do final do século passado.
Depois de almoçar, vou outra vez para as aulas por videoconferência até às 16:30. Terminadas as aulas, faço uma pequena pausa para o lanche. Logo a seguir, lá vou eu, outra vez, até às 17:40 fazer os trabalhos propostos pelos professores (cá entre nós que ninguém nos ouve, acho que estão a exagerar um bocado).
No final de um dia destes, como os dias agora são maiores, ainda arranjo tempo para andar de bicicleta ou, se conseguir apanhar a minha mãe bem-disposta, dar uns toques de futebol mesmo antes de jantar. Ao fim de jantar, vejo um bocado televisão, vou tomar banho e vou dormir. É assim durante a semana toda... nunca pensei ter saudades da escola: dos recreios, das brincadeiras, das aulas presenciais e, sobretudo, do convívio com os meus amigos.
Os dias tornaram-se longos, muito longos. Existe uma vontade enorme que tudo isto passe rapidamente para podermos brincar em conjunto, para podermos visitar quem agora não podemos, para podermos abraçar os que agora estão longe.
São horas de dormir! Pelo menos sonhemos que amanhã será um dia melhor.
Gabriel Alves Puga, 6ºH, Escola Básica de Vale do Mouro.
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Tangil, 8 de maio 2020
Meu querido diário,
Passados cem anos da gripe espanhola, eis que acordamos da noite para o dia com um novo vírus para enfrentar. Este novo vírus, chamado de coronavírus, origina a doença covid19. Surgiu em dezembro de 2019, na cidade de Whuhan.
Sabes, parecia tudo tão distante, quando, em finais de fevereiro, surge o primeiro caso em Portugal. A partir daí, outros surgiram e estes foram aumentanto. Devido a esta situação, comecei a ouvir que as escolas iam encerrar. Agora dou por mim a pensar que até eu e as minhas amigas fizemos piadas sobre o vírus, mas era algo muito sério. Quando me apercebi, já a escola tinha sido fechada.
Os primeiros tempos em casa, confesso-te, foram bastante divertidos, pois fiz muitas coisas que não tinha tempo para fazer quando estava na escola. À medida que o tempo foi passando, estar em casa começou a tornar-se aborrecido. Começei a sentir saudades da minha rotina, de estar com os meus amigos e no fim de semana de estar com os meus familiares. Estar em casa também me trouxe alguns benefícios, pois agora tenho mais tempo para estar com os meus pais, ver alguns filmes e séries, cuidar mais de mim e também ter novas experiências, como ter aulas através da televisão. Estou a gostar bastante desta nova experiência, mas não há nada melhor do que aprender numa sala de aula!
Meu amigo, nestes últimos tempos, tenho andado bastante pensativa. Começo a perguntar-me: como será a vida daqui para a frente? Como será ir para a escola de máscara? Não consigo imaginar a minha reação. Depois de tanto tempo afastada dos meus amigos, dos meus familiares e nem sequer poder dar-lhes um abraço... Se soubesses, meu querido diário, como me sinto triste, amedrontada... Esta fase está a ser das piores da minha vida e da de todos nós.
E o que se passa no mundo? Ouço dizer nas notícias que muitas famílias que acabam por perder os seus entes queridos nem sequer se podem despedir deles, outras têm familiares internados que nem podem visitar, por isso devemos proteger-nos ao máximo e evitar sair de casa por mais difícil que seja.
Por enquanto, todos sabemos que ainda não há uma cura nem uma vacina específica para nos salvar do vírus. Neste momento, temos cientistas de todo o mundo a estudar uma vacina para combatê-lo, no entanto não está a ser fácil. Apesar de tudo, temos os nossos heróis da saúde, os médicos, que todos os dias trabalham muito para salvar a vida de muitas pessoas. Penso, meu diário, que, no meio de tantas coisas negativas a acontecer, tudo isto veio também dar-nos uma lição de vida: afinal, somos todos iguais. Este vírus não escolhe cor de pele nem estrato social. Neste momento, acho que a melhor vacina que podemos ter são as medidas de prevenção. Nem imaginas as saudades que tenho da minha vida como era até este momento!
Por hoje é tudo. Já me alonguei bastante. Desabafar contigo fez-me bem. Até outro dia, meu amigo.
Beatriz.
Beatriz Vieira De Sousa, nº4, 8ºF, Escola Básica de Vale Do Mouro.
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17 de abril de 2020
Querido diário,
Há uns meses atrás, nunca pensaria que o país e o mundo atravessassem uma pandemia tão grande como esta. Covid-19 foi o nome dado à pandemia que já fez imensas mortes por todo o mundo. Agora, com o tempo todo que tenho em casa, penso que a nossa vida antiga era demasiado boa e que nunca lhe demos o devido valor. Podíamos fazer tudo o que queríamos, sair, ir à escola, tocar-nos, tudo isso agora é impossível. Confesso, tenho saudades das aulas.
Nesta fase, vemos cidades desertas, cidades que ainda há relativamente pouco tempo estavam repletas de multidões e que, agora, estão sem ninguém, o que é muito triste de se observar. Espero que tudo passe e volte rapidamente ao normal!
Acredito que em breve voltaremos todos às nossas rotinas e que voltaremos a abraçar as pessoas de que mais gostamos. Esta é uma realidade diferente, mas uma realidade em que deu para pensar que a vida que tínhamos era ótima e que não a devíamos ter desvalorizado.
Mais um dia se passou, praticamente igual ao de ontem e provavelmente idêntico ao de amanhã; mas o mais importante, é que o passei com saúde.
Adeus, vou dormir, até amanhã!
Raquel Caldas,nº22, 9ºB.
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