Por elizabeth teixeira | Ter, 2016-05-03 11:14

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Acordei com a notícia a ecoar na rádio que procuravam um corpo de um jovem no Rio Minho em Monção. Procurei de imediato uma simples explicação, mas longe de pensar que alguma vez esse jovem fosses tu. Chegando à escola fui abordada por várias pessoas e contaram-me o que tinha acontecido. Na hora não absorvi as palavras ditas porque pareciam irreais. Passou mais um dia de trabalho e quando finalmente sentei-me e tive um pouco de tempo para descansar e pensar, veio a tua imagem à mente, lá no canto da sala encostado à parede onde tantas vezes sentavas e de um canto do olho olhavas para mim enquanto dava a aula e fazia perguntas. Por vezes respondias, por vezes não… por vezes estavas atento, outras vezes também estavas longe nos teus pensamentos e preocupações… o que estarias tu a pensar? Ao longo destes últimos três anos, em que te conheci, foste uma pessoa de poucas palavras, de poucas expressões, alguns sorrisos fugitivos, mas de poucas convivências. No entanto, nunca senti, da tua parte, indelicadeza nem desrespeito. Era assim que te via na escola… 

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Ultimamente, andavas muitas vezes só e cabisbaixo; outras vezes, o teu amigo te acompanhava porque, sendo da mesma turma, ele também, sozinho andava. Ambos diferentes mas que se complementavam entre as confidências e os segredos de amizade que só vocês guardavam. “O que se passa com o Alexandre?” Perguntava eu, vezes repetidas, mas ninguém respondia ou simplesmente encolhiam os ombros. Seria porque eu não merecia saber ou seria que nada queriam dizer ou eles também ignoravam a verdade que tentavas esconder? “Ele é um miúdo um pouco estranho…” ouvia-se dizer entre paredes das salas percorridas, mas o que se entende por “estranho” numa sociedade onde todos dizem se conhecer, mas nas verdade ninguém se compreende, ninguém se ouve, ninguém se ajuda verdadeiramente e simplesmente olhamos apenas para o nosso umbigo, na correria dos afazeres diários? Agora refletimos, olhamos para trás e lamentamos e procuramos explicações, desculpas e a quem ou a quê culpabilizar. Nada serve neste momento de dor e descrédito porque assim o destino escreveu e nada e ninguém te devolverá a este mundo que decidiste deixar para trás, como aquele que emigra, sem retorno, à procura de soluções para problemas de vida…

Haverá sempre alguém quem te lembrará e a quem deixaste memórias tatuadas no seu coração, nesta passagem breve pelo tempo, que para ti foi mais curto do que alguma vez se esperava e, por pena minha, não te pude ajudar a prolongar ….

Aqui deixo, com carinho, estas palavras que nada mudam, mas lamento não podermos conversar, sentados à mesa de uma sala, nem que fosse, procurando saídas menos penosas para todos que gostavam de ti. Que Deus te dê a paz que tanto procuraste.

Professora Elizabeth Teixeira